O espírito natalino aparece por todos os lados durante o mês de dezembro. Anjos, papéis noéis, e presépios espalham-se por toda a cidade e tornam-se pontos turísticos. Mas muitas vezes esquece-se os significados por trás destas tradições.
Presépio montado na Diocese de São João del Rei - MG |
Presépios fazem parte da cultura natalina do mundo todo mas sua origem é cristã.
Com um significado religioso, a data celebra o nascimento de Jesus Cristo. Por isso algumas tradições de Natal possuem um fundo cristão ou um sentido perdido e adaptado com o tempo. O presépio, por exemplo, representa o momento do nascimento do menino Jesus e a chegada dos Reis Magos para
entregar-lhe os presentes.
Mas qual seria a razão para cada personagem estar presente? Teria realmente acontecido daquela forma a chegada do Filho de Deus a Terra? Publicado pela editora Santuário, de Aparecida, o livro "Natal" resgata as bases cristãs das festas de fim de ano e aprofunda as razões para utilizar as decorações de costume.
Veja abaixo trecho do livro que explica o surgimento do presépio e o significado de cada personagem:
* O Presépio
São Lucas, como aludimos acima, diz, em poucas palavras, que Maria deu à luz seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala (LC 2,7). A tradição, com muita imaginação, situou esse lugar como sendo uma gruta ou estábulo com feno, animais, cochos. No meio de tudo isso, Maria, José e o menino. Mas, não faltando, sem dúvida, o burrinho que transportou a família de Nazaré para Belém.
A reconstituição dessa cena denominou-se Presépio. Historicamente sua origem remonta a São Francisco de Assis. Tomás de Celano, biógrafo do Santo, é a fonte do relato. Apresentamos aqui um resumo:
Corria o ano de 1223 e aproximava-se o Natal. Francisco que, segundo Celano, não deixava dia e noite de meditar os inefáveis mistérios da vida, paixão e morte de Jesus Cristo, resolveu celebrar de maneira nova e original a festa do nascimento de Cristo. Achando-se no eremitério de Fonte Colombo, disse a João Velita, amigo e admirador seu, membro da Ordem Terceira:
-- Senhor João, se quiser me ajudar, celebraremos este ano o Natal mais belo que jamais se viu!
E o amigo retrucou logo:
-- Certo que quero, meu Pai.
Então Francisco completou:
-- Num dos bosques que cercam o eremitério de Greccio, há uma gruta semelhante à de Belém. Desejaria representar a cena do Natal. Ver com os olhos do corpo a pobreza na qual Jesus Menino veio ao mundo. Tal como foi colocado numa manjedoura entre o boi e o asno. Já tenho autorização do Santo padre para fazer esta evocação da Natividade de Cristo!
João, decidido, apenas acrescentou:
-- Compreendi. Deixe tudo por minha conta, meu pai!
Na noite de Natal, os sinos do vale de Rieti bimbalhavam festivamente e os habitantes, avisados da nova celebração, acorriam das aldeias, dos castelos, dos casarios mais distantes, pelos caminhos saibrosos, sob a cintilação das estrelas, pela noite gelada, mas límpida. Acorriam todos, levando oferendas como os pastores da Judéia, enquanto dos eremitérios de Fonte Colombo e de Poggio Bustone e de outros lugares vinham os Frades em procissão com tochas acesas, entoando litanias, meio devotos, meio curiosos da grande novidade. As tochas, escreve Celano, ajudavam a iluminar a noite que era iluminada todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim, chegou o santo, e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito...
Greccio tornou-se uma nova Belém, com um novo tipo de evocação do nascimento de Jesus Cristo, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade do divino Salvador. A noite ficou iluminada como o dia, e estava deliciosa para os homens e para os animais...
O povo foi chegando e se alegrou com o mistério, ressoava com as vozes ecoando nos morros. Os Frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor, e a noite inteira se rejubilava.
Durante a solene missa, São Francisco, que era diácono, encarregou-se de cantar o evangelho com voz forte, doce, clara e sonora. Com imenso carinho e emoção fala depois ao povo ali presente sobre o nascimento de Jesus pobre. E na consagração adora a presença sacramental do Senhor, que realiza naquele momento o Natal. E, na comunhão, ele o recebe com uma devoção inusitada. Para Francisco, o Menino está realmente presente. Seus braços o apertam, seus olhos o vêem, seu coração se inunda de amor e gratidão...
E se, passados tantos séculos, o presépio continua sendo, depois da missa, a celebração mais digna do Natal, é porque um gênio de poeta e santidade o imaginou para, de modo bem prático e didático, continuar fazendo os homens relembrarem o supremo gesto de amor do Filho de Deus, como escreve Santo Agostinho.
O presépio foi organizado por São Francisco para visualizar, sensibilizar, facilitar a meditação da mensagem evangélica do conteúdo do mistério de Jesus Cristo, que nasce na pobreza, na simplicidade, para fazer o homem mais humano: Filho de Deus, irmão de todos os demais homens, harmonizado com o cosmos. Cada figura do presépio tem seu conteúdo evangelizador. É preciso explicitá-lo, captá-lo e vivenciá-lo:
a) José: o esposo, o companheiro; o pai, o homem que ama, trabalha, é responsável; o homem que respeita, que sustenta, que orienta; o homem de oração...
b) Maria: a esposa, a mãe, a companheira fiel, pura, digna, cumpridora da vontade de Deus (Eis aqui a serva do Senhor...); a mulher que educa, ora, medita em seu coração os mistérios da maternidade; é toda doação e dedicação...
c) Os pastores e os sábios: os simples e os sábios: os simples e os cultos, pessoas à escuta, em busca, que sabem ler os sinais dos tempos, saem de si para encontrar os outros, lêem no outro a presença de Deus...
d) Os animais, o feno, a gruta: a natureza toda a serviço do homem e de Deus, e quem acolhe o homem, acolhe a Deus...
e) A estrela: guia, luz, ideal, sentido...
f) Os anjos: mensageiros de Deus, comunicadores da Boa Notícia.
Publicação da FolhaOnline, do livro: "Natal", Autor: Israel José Nery, Editora: Santuário, Páginas: 160
QUANDO DESMONTAR O PRESÉPIO?
Esta é uma pergunta sempre feita pelas pessoas que tradicionalmente montam seus presépios. Assim, para tirar esta dúvida, a Diocese de São João Del-Rey - MG, faz uma explanação:
O tempo do Natal só se conclui com a festa do Batismo do Senhor que, no ano de 2019, acontecerá no dia 13. “A festa dos Reis é a última grande festa do ciclo de Natal. Depois da festa do batismo de Jesus e festa dos Reis, inicia um novo tempo litúrgico. A primeira parte do tempo comum que se estende até a terça-feira de carnaval”, diz frei Faustino.
O dia 6 de janeiro, marca o momento em que os três Reis Magos encontraram o menino Jesus, revelando seu nascimento para o restante do mundo. É a data em que o Oriente celebra o Natal, como o Ocidente celebra no dia 25 de dezembro. A Igreja de Roma passou então a celebrar a Festa dos Reis Magos. É a festa da manifestação de Jesus como salvador da humanidade – de todos os povos. Epifania que quer dizer manifestação. “Para os cristãos, essa festa significa a acolhida da proposta salvadora de Deus para todos os povos. Três magos, representa o reconhecimento, acolhida da ação salvadora de Deus Pai que se realizará por meio de Jesus Cristo”, ressalta o frei.
Na tradição católica, a passagem bíblica em que Jesus foi visitado por reis magos, converteu-se na tradicional visitação feita pelos “três Reis Magos”, denominados Melchior, Baltasar e Gaspar, os quais passaram a ser referenciados como santos a partir do século VIII. Segundo frei Faustino, em pesquisa literária, feita por Pergo, levantou-se que a tradição da “Folia de Reis” chegou ao Brasil por intermédio dos portugueses, ainda no período da colonização. Essa manifestação cultural era realizada em toda a Península Ibérica e era comum a ocorrência de doação e recebimento de presentes enquanto eram entoados cantos e danças nas residências da época. Baseado nessa argumentação, a Folia de Reis teria vindo ao Brasil no século XVI, cerca do ano de 1534, trazido pelos Jesuítas, e servindo como um instrumento na catequização dos índios e, posteriormente, dos negros escravos.
Formação
A festa da Epifania (festa dos santos Reis/manifestação) surgiu no Oriente como a festa do nascimento de Jesus. É o Natal do Oriente. A exemplo de Roma, no Oriente, nos primeiros dias de janeiro celebrava-se a festa da concepção do deus Hélio (deus sol) pela virgem deusa Coré. No século IV, esta festa chega ao Ocidente e é celebrada de forma diferente. Passa a ser a festa dos Reis Magos. Nesta época, a Igreja não celebrava nenhuma das duas festas: dos Reis Magos e a manifestação de Jesus às nações. A Epifania transformou-se numa festa popular na Idade Média. Na época em que as supostas relíquias dos Reis foram transferidas de Milão para Colônia, na Alemanha. O Evangelho de Mateus (2, 1-12), não fala de reis, mas de magos. E nem revela o nome e quantos eram. Os nomes de Gaspar, Melquior e Baltazar são conhecidos no século IX. No fim da Idade Média, havia o costume de se abençoar as casas com água e incenso bentos no dia 6 de janeiro. As casas abençoadas eram assinaladas nas portas com as letras C + M + B = Christus Mansionem Benedicat (Cristo abençoe esta casa). A piedade do povo associou as letras ao nome dos Reis Magos (cf A.ADAM. O Ano Litúrgico, p.145).
Batismo de Jesus
A Igreja no domingo após o dia 6 de janeiro celebra o Batismo de Jesus no rio Jordão. Nesse dia, seria aconselhável que as comunidades, refletindo sobre o Batismo de Jesus, renovassem as promessas batismais. “A celebração do Batismo de Jesus encerra o tempo do Natal e abre as portas para os domingos do Tempo Comum”, ressalta o frei.
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